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O decreto de tombamento, em caráter definitivo, de áreas municipais com vestígios paleontológicos entre o Parque dos Girassóis e o Jardim São João, em Presidente Prudente (SP), foi publicado nesta sexta-feira (21) no Diário Oficial do Município, nove meses após o anúncio do procedimento. Ao G1, a Prefeitura adiantou que a área deve ser isolada em março. Do local já foram extraídas raridades, como ossos de aves que viveram no período Cretáceo, a chamada "Era dos Dinossauros”. A decisão considera que "compete ao município a necessidade de ações para proteção dos sítios arqueológicos e paleontológicos, não apenas com fundamento nas leis ambientais, mas também na legislação de patrimônio cultural brasileiro”. Pondera ainda que "áreas municipais com valores culturais de importância científica (dotadas de elementos geológicos, arqueológicos e paleontológicos) podem ser propostas para receber uma nova forma de reconhecimento de seu valor como ‘paisagem cultural ”. Outros pontos considerados são a manifestação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico (Comudephaat) pelo tombamento do local e que "a preservação de locais de valor histórico é intrínseco do Poder Público” constam em termos das constituições Federal e Estadual, bem como da Lei Orgânica do Município. "Ficam tombadas em caráter definitivo as áreas situadas entre os bairros Parque dos Girassóis e São João, entre as ruas João Pedro Pereira com a Salvador Francisco dos Santos, confrontando com a antiga Estrada Boiadeira com a Avenida Odinir Marangoni”, destaca o documento em seu artigo 1º. Ainda de acordo com a medida, "as despesas decorrentes da execução do decreto correrão por conta de verba própria, consignada em orçamento”. Descobertas significativas A importância científica da área foi descoberta há pouco mais de 15 anos pelo paleontólogo Willian Roberto Nava, do Museu de Paleontologia de Marília (SP). Diante da notícia do decreto, ele lembrou ao G1 que a proteção do sítio paleontológico "William s Quarry", como foi denominado pela equipe do Museu de Los Angeles, nos Estados Unidos, é uma reivindicação antiga da equipe de paleontólogos que atua no local em busca de fósseis de aves da época dos dinossauros. A possibilidade de alguma proteção física na área das escavações, com vistas a impedir que seja despejado lixo no local, é levantada desde 2017. "Diante de nossas argumentações, sobre a relevância desse sítio que abriga fósseis tão raros, ficou estabelecido que o local seria cercado, ou algo assim, para garantir a continuidade das pesquisas científicas agora e para o futuro, pois acreditamos que muitas outras descobertas significativas estão para ocorrer, contribuindo para o desenvolvimento da paleontologia nacional e mesmo internacional”, destacou ao G1 o paleontólogo. O sítio "William s Quarry" abriga milhares de fósseis de pequenas aves muito semelhantes às encontradas na China, conforme recordou Nava ao G1, e abre um campo de estudos "muito amplo”, como o entendimento de como esses pássaros primitivos se relacionavam num ambiente que também abrigava crocodilos, peixes e dinossauros. "Se busca saber que nichos ecológicos elas ocupavam, de que se alimentavam (encontramos crânios apresentando dentes) e como era o ambiente na época”, comentou ao G1 o pesquisador. "Estudando as rochas e os fósseis, dá pra imaginar esse cenário de milhões de anos atrás. Uma descoberta de nível mundial, que coloca Presidente Prudente e Marília mais uma vez em evidência no panorama paleontológico”, salientou. Nava destacou ao G1 que o sentimento, particularmente para ele, que vai à área com frequência, "é de ver garantido que o local permaneça em situação favorável à continuidade das escavações, ou seja, como está, sem a preocupação de que no futuro vão construir algo sobre as rochas do sítio, o que tornaria inviável a sequência das pesquisas e a ciência perderia o único local do Brasil com esse tipo de fóssil”. "Seria uma grande perda para a sociedade também, sem dúvida”, disse. O "sítio das aves" de Presidente Prudente foi apresentado no ano passado em um evento internacional de paleontologia na França e nos Estados Unidos da América, segundo contou Nava. Neste ano, o espaço já foi apresentado na Austrália e Nava o mostrou num painel na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais, em outro Congresso de Paleontologia. Próximos passos O prefeito de Presidente Prudente, Nelson Roberto Bugalho (PSDB), adiantou ao G1 nesta sexta-feira (21) que o material para o isolamento da área já foi adquirido e sua instalação deve ser colocada na programação da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Sosp). A previsão é de que o serviço seja realizado em março. Conforme contou ao G1 o chefe do Poder Executivo, outras medidas também serão analisadas, como a elaboração, junto a pesquisadores, de placas informativas sobre o local, o que abriga e a sua importância. Outra possibilidade futura é a instalação de câmeras para monitorar o espaço. Com o tombamento oficializado, o prefeito também comentou a importância de que os estudos dos fósseis sejam realizados na cidade de Presidente Prudente e de universidades do município se engajarem em pesquisas relacionadas ao sítio paleontológico. Referência O terreno na zona sul de Presidente Prudente abriga fragmentos de história incrustados em suas rochas. Foram eles pequenos fósseis que por anos ficaram "escondidos” e que colocaram a cidade nos holofotes da ciência nacional e internacional. O espaço foi descoberto há pouco mais de 15 anos e começou a ser explorado. O paleontólogo Willian Roberto Nava contou ao G1 que estava na cidade para outras pesquisas e escavações, quando foi atraído pelas rochas que se afloravam no terreno. Raridades já foram extraídas, como os ossos de aves que viveram no período Cretáceo, a "Era dos Dinossauros”. Por se tratar de um espaço com raros materiais, Nava e companheiros de trabalho da Argentina e dos Estados Unidos da América pediram a proteção do local à administração pública de Presidente Prudente. O pedido, segundo Nava, é solicitado desde maio de 2017. O Museu de Los Angeles considera o sítio paleontológico prudentino como o mais rico em quantidade e grau de preservação dos fósseis, comparável aos sítios de fósseis de aves da China, segundo lembrou Nava ao G1. Em maio de 2019, ocasião em que ocorreram novas escavações, o prefeito Nelson Roberto Bugalho esteve no local e novamente foi enfatizada a importância da preservação do sítio para a ciência brasileira, apesar de ser área pública e estar dentro do perímetro urbano. Na ocasião, também foi anunciado o pedido de tombamento da área ao Comudephaat. No mês seguinte, em 25 junho, a Secretaria Municipal de Comunicação informou ao G1 que o decreto com o texto de tombamento deveria ser publicado "nos próximos 60 dias”, o que não ocorreu, e que também seria realizado um Termo de Cooperação com instituições acadêmicas para a utilização da área como laboratório de pesquisas científicas. Em janeiro deste ano, a TV Fronteira flagrou mato alto, lixo e entulho acumulados na área. A situação desagrada a moradores do conjunto habitacional conhecido como "predinhos do São João". Após o contato da emissora com a Prefeitura de Presidente Prudente, uma equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semea) foi ao local recolher os materiais.
Fósseis raros foram encontrados em rochas extraídas do terreno, em Presidente Prudente — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Fósseis raros foram encontrados em rochas extraídas do terreno, em Presidente Prudente — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Alguns fósseis de aves associados — Foto: Willian Roberto Nava/Arquivo Pessoal
Alguns fósseis de aves associados — Foto: Willian Roberto Nava/Arquivo Pessoal
Pesquisadores realizam escavações em sítio paleontológico em Presidente Prudente — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Pesquisadores realizam escavações em sítio paleontológico em Presidente Prudente — Foto: Stephanie Fonseca/G1

G1

Paineira Tupã

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