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A idosa Encarnação Morata, de 90 anos, moradora em Lucélia, recebeu doses das vacinas contra a Covid-19 de dois diferentes laboratórios. O caso foi noticiado pelo G1 nesta terça-feira (16). Segunda a reportagem, a mulher foi imunizada em primeira dose com a Coronavac, em 12 de fevereiro, conforme consta no comprovante da vacinação apresentado pela família. E depois, em março, recebeu como segunda dose a vacina da Oxford/AstraZeneca. "É um erro muito grande", disse ao G1 o técnico de enfermagem Alex Rosa de Assis, neto da idosa.

Encarnação Morata na aplicação da primeira dose, em fevereiro (Imagem: Alex Rosa de Assis/Cedida. Reprodução/G1)
Encarnação Morata na aplicação da primeira dose, em fevereiro (Imagem: Alex Rosa de Assis/Cedida. Reprodução/G1)
Ele mora em Botucatu, e acompanhou o ocorrido pelo grupo da família no WhatsApp. "Ligamos para saber se eles poderiam ir na casa da minha avó, porque ela é acamada, mas disseram que não conseguiriam, que poderiam acabar as doses. Minhas primas colocaram a vó no carro e a levaram para o Centro de Saúde, e ela tomou a vacina dentro do carro", explicou ao G1. A aplicação da primeira dose foi registrada em uma foto, feita por familiares. A imagem mostra uma profissional da saúde aplicando a dose no braço da idosa, que estava no carro. No comprovante de vacinação estão anotadas a caneta as informações no campo reservado aos dados da primeira dose, onde consta a unidade onde foi aplicada a vacina (C. Saúde), a data (12/02/2021), o lote, o fabricante (Coronavac) e o nome de quem aplicou o imunizante. No campo reservado às informações sobre a segunda dose, foi escrita a lápis a data "05/03/2021", ficando então pré-agendada a segunda aplicação. Já no dia 5 de março, segundo o G1, a família fez contato com a unidade de saúde e solicitou que a aplicação da segunda dose fosse realizada na casa da idosa. O pedido foi atendido. "Quando a minha tia postou no grupo da família o cartão com a dose da AstraZeneca, eu vi o erro", relatou o neto ao portal de notícias. Em relação a essa segunda aplicação, os profissionais de saúde apresentaram um novo comprovante de vacinação, onde constou tratar-se de primeira aplicação. No novo comprovante as anotações foram feitas na parte reservada à informação de dados da primeira dose, com a data (05/03/2021), o lote, o fabricante (AstraZeneca) e o vacinador. E no campo reservado aos dados da segunda dose, uma anotação a lápis informando que a segunda dose estava programada para 5 de junho.
Comprovantes da primeira e segunda doses (Imagens: Alex Rosa de Assis/Cedida. Reprodução/G1)
Comprovantes da primeira e segunda doses (Imagens: Alex Rosa de Assis/Cedida. Reprodução/G1)
Após constatar a falha na aplicação de doses de laboratórios diferentes, o neto fez contato com o Centro de Saúde. "No momento, só estava a minha tia junto com a minha vó. Eu liguei no Centro de Saúde e colocaram a culpa na minha família. Minha tia é leiga nesse assunto e é tudo muito novo também", relatou ao G1. O técnico de enfermagem afirmou que a responsabilidade do controle de qual dose deve ser aplicada é do município. "A responsabilidade é do Centro de Saúde. Eles aplicaram como se fosse uma primeira dose. Ou seja, eles não tinham o cadastro da vacina. Eu liguei várias vezes no Centro de Saúde, ficaram de dar uma resposta sobre o que aconteceu, mas eles ficavam colocando a culpa na família", publicou o G1. Segundo o neto, a avó tem problemas de saúde, e a situação decorrente da vacinação gerou preocupação na família. "Ela já teve câncer de pele, tem problema cardíaco, pressão alta e está acamada porque teve um AVC [Acidente Vascular Cerebral> isquêmico", contou ao portal de notícias. "A gente queria a vó imunizada, em segurança. É como se eu tivesse ido tomar a vacina contra a hepatite e tivesse saído do Centro de Saúde imunizado contra a febre amarela. É um erro. É um erro muito grande. Um descaso, porque eles nem souberam explicar como esse erro aconteceu", continuou. Após insistir - segundo o técnico de enfermagem - o município informou que a idosa vai tomar a segunda dose da vacina CoronaVac no dia 19 de março. "Ainda bem que ela não teve reação com a vacina de Oxford, porque a gente sabe que tem provocado mais reações", comentou. Alex Rosa de Assis trabalha na linha de frente de combate à Covid-19. Ao G1, ele salientou que sabe da importância de ser imunizado. "Eu tive de correr por fora também. Procurei um infectologista, conversei com ele e expliquei o que aconteceu. Ele disse que o certo seria ela tomar a segunda dose da CoronaVac. É como se a da AstraZeneca fosse descartada", explicou. Diante do drama vivido, o neto alertou para que as pessoas se atentem sobre as informações nos comprovantes de vacinação. "Pode ter acontecido com outras pessoas. Vale essa orientação para que as pessoas fiquem atentas. Muita gente nem fica de olho porque confia nos profissionais de saúde", finalizou. O outro lado O G1 procurou os representantes da Secretaria Municipal de Saúde de Lucélia. Em nota (íntegra abaixo), o diretor de Saúde e Saneamento do Município, Laércio Parússolo dos Santos Júnior, afirmou ter sido feito um levantamento junto aos servidores da unidade de saúde, sobre o caso da idosa. "Informamos que, segundo levantamento junto aos servidores do Setor de Saúde local, a equipe que se dirigiu até a residência da paciente não fora informada pelos familiares da mesma que ela teria sido vacinada anteriormente, bem como não informaram a dose que teria sido utilizada", informa a nota. A reportagem do G1 questionou o Município sobre o controle das doses aplicadas nos moradores. Em resposta, o diretor de Saúde e Saneamento salientou que, quando o paciente se desloca até a unidade de saúde para receber a dose da vacina contra a Covid-19, é realizada uma entrevista por meio de um formulário, "cujas informações são inseridas no Sistema Vacivida, onde, além dos dados do beneficiário, são informados todos os dados da dose que foi administrada, tais como: data de vacinação, lote e fabricante etc", disse. Na hipótese de um paciente receber a vacina de um determinado laboratório, e receber outra dose de outro laboratório, consequentemente, a última dose aplicada é considerada inválida e a dose de reforço deverá ser feita conforme a 1ª dose, respeitando o intervalo mínimo de duas semanas a partir da dose que foi administrada equivocadamente, conforme orientações contempladas no Documento técnico - Campanha de Vacinação Contra a Covid", finalizou o diretor de Saúde, na nota. Equívoco na vacinação Procurado pelo G1 para repercutir o caso, o médico infectologista André Pirajá destacou que, ocorrendo a aplicação de doses de diferentes fabricantes da vacina contra o coronavírus, o primeiro passo é "reconhecer o equívoco" e prosseguir com a vacinação. "Reconhecendo o equívoco, que tomou uma dose de uma vacina e uma segunda dose de outra, você reconhece que houve uma falha de um procedimento. Não é comum, mas pode ocorrer", disse. Depois de reconhecer o equívoco, deve-se prosseguir com a imunização. "Se ela tomou a primeira dose da CoronaVac, ela deve ser imunizada com uma segunda dose da CoronaVac, seguindo o calendário vacinal normalmente, sem problema nenhum. Acredito que essa seja a forma mais plausível porque vai imunizar a senhora de uma forma mais rápida. Porque, se fosse seguir o calendário vacinal da AstraZeneca, teria de espera mais 12 semanas para, depois, terminar a segunda dose da vacinação", detalhou ao G1. O médico procurado pelo portal também destacou que não há riscos ou danos à saúde por conta do equívoco da aplicação das diferentes doses. "Isso foi um evento adverso", pontuou o profissional. Veja a íntegra da nota do Município de Lucélia ao G1: "Informamos que, segundo levantamento junto aos servidores do Setor de Saúde local, a equipe que se dirigiu até a residência da paciente não fora informada pelos familiares da mesma que ela teria sido vacinada anteriormente, bem como não informaram a dose que teria sido utilizada. Considerando que, quando a paciente se desloca até a Unidade de Saúde para receber a dose da vacina para o combate da COVID-19, é realizada uma entrevista por meio de um formulário, cujas informações são inseridas no Sistema VACIVIDA, onde, além dos dados do(a) beneficiário(a), são informados todos os dados da dose que foi administrada, tais como: data de vacinação, lote e fabricante etc.. Considerando que, na hipótese de um paciente receber a vacina de um determinado laboratório, e receber outra dose de outro laboratório, consequentemente, a última dose aplicada é considerada inválida e a dose de reforço deverá ser feita conforme a 1ª dose, respeitando o intervalo mínimo de 02 semanas a partir da dose que foi administrada equivocadamente, conforme orientações contempladas no Documento técnico - Campanha de Vacinação Contra a COVID". O G1 também questionou a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e o Ministério da Saúde sobre a situação da idosa Encarnação Morata, sobre os procedimentos de registro das doses aplicadas, sobre o que deve ser feito em caso de aplicação de doses de diferentes fabricantes e sobre a responsabilização dos envolvidos no caso. A Secretaria da Saúde do Estado informou, por meio de nota, que a reportagem deveria "procurar o município, que por sua vez deve prestar todos os devidos esclarecimentos, já que faz parte das atribuições de cada um dos 645 municípios do Estado vacinar o público-alvo de sua população". Já o Ministério da Saúde não se manifestou até o momento da publicação da reportagem pelo G1.

G1

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