Pesquisadores da UNESP de Tupã distribuem filtros em comunidade amazônica
11/12/2021 Nova operação do projeto, com a doação de mais filtros, orientações sanitárias (e ações extensionistas em outras áreas) ocorrerá no início de maio de 2022
Entre os anos de 2018 e 2020, o então mestrando da UNESP de Tupã Valdemir Garcia Neto Melo, sob orientação do Prof. Dr. Nelson Russo de Moraes, realizou uma pesquisa sobre o bem-estar humano e a qualidade da água consumida pela Comunidade Tradicional de Ribeirinhos do Povoado Senhor do Bonfim, no município de Araguacema, estado do Tocantins.
A pesquisa, que cunhou a caracterização daquela comunidade como sendo tradicional — de acordo com os delimitadores acadêmico-científicos e com as legislações específicas — acompanhou (com análises laboratoriais continuadas) a qualidade da água distribuída para a comunidade e detectou variações graves nos padrões, como a presença de coliformes fecais em índices elevados, também variações nas dosagens de cloro (com picos graves na dosagem) e a constância na presença de impurezas e resíduos físicos.
A pesquisa considerou também a condição de ainda serem utilizadas as "fossas negras" que potencializam a contaminação dos lençóis de água.
Outra constatação foi que a captação de água é feita por meio de poços rasos e médios e que há falta de manutenção e de substituição de peças, tubulações e reservatórios, tornando a ferrugem e vazamentos comuns no sistema.
Também observou-se que, com a colocação manual de cloro (quando se tem este produto) na caixa d água central e com a elevada contaminação de todo o território durante o período de romaria ao Senhor do Bonfim (mês de agosto), a água distribuída à comunidade mostrou-se de qualidade muito ruim para o consumo humano.
De posse das informações finais da pesquisa de mestrado do PGAD e, aguardada a redução de riscos sanitários impostos pela pandemia de Covid-19, o Grupo de Estudos em Democracia e Gestão Social da UNESP de Tupã se organizou e iniciou campanha de orientação sanitária e de distribuição de filtros cerâmicos com velas de tripla ação de filtragem para os moradores da Comunidade Senhor do Bonfim.
Nova operação do projeto, com a doação de mais filtros, orientações sanitárias (e ações extensionistas em outras áreas) ocorrerá no início de maio de 2022.
A comunidade
A comunidade tocantinense "Povoado Senhor do Bonfim", localizada na bacia do rio Araguaia, junto a divisa com o estado do Pará, teve fundação na primeira metade do século XX, quando uma família vinda da Bahia trouxe consigo a imagem do Senhor do Bonfim, agregando mais algumas poucas famílias sertanejas e ribeirinhas do Pará e do então interior do Goiás para morarem naquele local, em meio à mata.
Ao longo das décadas uma romaria anual (que chega hoje a mais de 10 mil pessoas/ano) começou a se formar para visitação à imagem milagrosa, mas isso não tirou a simplicidade da comunidade e nem trouxe atendimento às necessidades mais básicas das (pouco mais de) 15 famílias tradicionais do vilarejo.
Assim, a educação de qualidade, a segurança territorial, a saúde (inclusive e especialmente a segurança alimentar e nutricional) e o acesso à água de qualidade para o consumo humano ainda são direitos que não chegaram na comunidade.
Os filtros cerâmicos, muito tradicionais no Brasil, para além de manterem a água fresca sem necessidade de refrigeração, neste caso, contando com os filtros de tripla ação de três camadas de filtragem (pedra porosa, carvão ativado e revestimento interno com prata coloidal) realizam a retenção de praticamente todos os resíduos físicos, de mais de 90% dos contaminantes microscópicos (retendo todos aqueles com mais de 0,5 micron de diâmetro), o carvão ativado tira os odores da água e, por fim, a prata coloidal retira o excesso de cloro, reduzindo o consumo de água com dosagens inadequadas.
Na mesma operação, da chamada MISSÃO AMAZÔNIA, os professores Nelson Russo de Moraes (PGAD/UNESP) e Alexandre de Castro Campos (agora doutorando no PGAD/UNESP) estiveram na Comunidade Tradicional de Geraizeiros da Matinha (Guaraí/TO) para a devolutiva da pesquisa finalizada de mestrado (também no PGAD/UNESP) sobre a mudanças das tecnologias de produção agrícola e na sociabilidade interna da comunidade à partir do sociólogo Ferdinand Tönnies (1855-1936), bem como para solicitação de autorização para pesquisa de doutorado do mesmo pesquisador (Alexandre), agora sob orientação da Profa. Dra. Angélica Góis Morales (PGAD/UNESP), sobre os impactos das variações e mudanças climáticas naquela comunidade tradicional amazônica.