Não é só o petróleo que está subindo com a invasão da Ucrânia pela Rússia. O conflito também jogou as cotações do trigo para cima no mercado internacional nesta quinta-feira, o que pode afetar o preço do pãozinho, das massas e biscoitos que chegam à mesa dos brasileiros.
Rússia e Ucrânia são responsáveis por 28% do comércio global de trigo. O risco é de diminuição global da oferta desse grão. O Brasil importa cerca de 6 a 7 milhões de toneladas de trigo por ano, o que corresponde a 50% do consumo.A Rússia ocupa a liderança mundial na exportação de trigo, e a Ucrânia está em quarto lugar.
— O Brasil importa trigo majoritariamente da Argentina. Mas os estoques mundiais do produto já diminuíram em 11 milhões de toneladas entre 2021 e 2022 (de 289 milhões de toneladas para 278 milhões) por conta de problemas climáticos nos EUA — analisa Guilherme Bellotti, gerente da consultoria de agronegócio do Itaú BBA.
Ele continua:— Com um conflito militar na Europa, teremos uma interrupção na cadeia logística, que vai afetar o mercado global, impactando o Brasil.
Um quadro de "aperto" global entre oferta e consumo de trigo pode gerar uma corrida para aumentar estoques. O preço do trigo na Bolsa de Chicago já vinha sendo cotado em patamares não vistos desde 2012.
Nesta quinta-feira, os contratos para venda em maio subiram 5,7%, para US$ 9,3475 o bushel (o equivalente a 27,1 quilos). Milho e soja também registram altas superiores a 5%.
Impacto também sobre o milho
Nesse contexto, as margens da indústria devem se reduzir já que os preços da farinha não conseguem acompanhar o ritmo de alta da cotação do trigo.
Enquanto a cotação do cereal em janeiro deste ano subiu 84,6% frente ao mesmo mês do ano passado, o preço da farinha de trigo no Brasil, no mesmo mês, foi corrigido em 59%.
— Os moinhos estão com dificuldade de repassar preços ao consumidor final — diz Bellotti.
Uma das saídas que a indústria vem utilizando é a redução do tamanho da embalagem dos produtos.
Outro ponto de preocupação é que o trigo é substituto do milho na ração animal. Nas exportações globais de milho, os ucranianos ocupam a terceira posição, enquanto os russos estão em sexto lugar.
Há risco de o preço do milho também subir ainda mais no mercado internacional. Além disso, a Rússia é importante fornecedor de fertilizantes ao Brasil, fluxo que também pode ter problemas.
O Globo
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