Após viajar mais de 2 mil km para doar medula, jovem conhece paciente que recebeu doação: Encontro muito esperado
30/12/2022 Giovanna Venarusso Crosara, de Bauru, fez a doação em janeiro de 2021 para uma paciente do hospital em Recife. Depois de quase dois anos ela pode conhecer a jovem que recebeu a medula.
Depois de quase dois anos do ato que salvou uma vida, a jovem que viajou mais de 2 mil quilômetros para doar a medula óssea pode conhecer a paciente que recebeu a doação em janeiro de 2021.
A psicóloga Giovanna Venarusso Crosara, de 26 anos, havia feito o cadastro no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) quatro anos antes, em 2016, após uma campanha para incentivar a doação de medula na universidade onde estudava em Bauru.
Em janeiro de 2021, ela viajou de Lins, onde morava na época, para Recife para fazer a doação após receber a notícia que era 100% compatível com uma paciente que fazia o tratamento contra o câncer. Algo que tem uma chance em 100 mil de dar certo fora da família biológica.
Quando a doação é feita, o doador não sabe para quem vai doar e esse sigilo dura 18 meses, após esse período eles podem ser conhecer se for interesse dos dois. Mas, desde que soube que era compatível com alguém que precisava dessa doação, Giovanna tinha o interesse de conhecer essa pessoa.
"No período da doação eu pensava sobre muitas possibilidades, mas nunca dá pra saber quem irá receber e muito menos tudo o que a pessoa passou até o momento do transplante", conta.
Depois de passado o período de sigilo, Giovanna entrou em contato com o Redome e soube que a paciente que recebeu a sua doação também tinha essa vontade de conhecê-la. "Nós duas assinamos o termo de consentimento e mandaram os contatos dela para mim e os meus para ela", explica a psicóloga.
Eduarda Castro, de 24 anos, mora no Rio de Janeiro, mas fazia tratamento contra um tipo de leucemia em Recife. Cerca de 750 km separavam a jovem da doadora, uma viagem mais curta em relação se comparada à distância que ambas percorreram para realizar o procedimento que criou uma ligação eterna entre as duas, mesmo sem ainda se conhecerem.
Giovanna conta que aproveitou a oportunidade de estar em São Paulo para fazer a viagem até o Rio de Janeiro. O encontro foi uma surpresa para a Eduarda, carinhosamente chamada de Duda.
"Nós não combinamos o primeiro encontro, fiz uma surpresa pra ela. Eu ia viajar pra São Paulo dentro de poucos dias e tive a ideia de fazer um bate volta no Rio pra visitá-la, conversei com os pais dela sem que ela soubesse e eles foram me buscar onde desembarquei e me levaram para casa deles. Quando cheguei, ela ainda estava dormindo. Então foi uma surpresa que ela nem imaginava", lembra.
"Eu amei vê-la pessoalmente e abraçá-la, esse encontro já era muito esperado por nós duas", afirma Giovanna.
As duas, que já conversavam pelas redes sociais, passaram o dia juntas. Uma lembrança que a Duda vai guardar para sempre.
"Eu tinha feito o Enem no dia anterior e estava muito cansada, demorei para acordar, mas quando cheguei na sala e vi a Giovanna entrei em choque. A gente estava combinando de se encontrar, mas num imaginava encontrá-la ali, na minha casa"
"Foi um dia muito gostoso, estava chovendo, mas a gente pode fazer várias coisas juntas. Passeamos e depois almoçamos todos juntos, em família.", lembra.
Irmã de sangue
Duda foi diagnosticada com Leucemia Mieloide Aguda, uma doença rara que atinge a medula óssea, em agosto de 2020 quando tinha 22 anos.
Ela precisou realizar o tratamento em Recife porque na época não havia vagas em hospitais referência no tratamento da doença no estado de São Paulo, que são mais próximos do Rio de Janeiro.
Durante o tratamento ela encontrou dois doadores compatíveis antes da Giovanna, mas eles desistiram da doação por isso, a jovem iniciou uma campanha nas redes sociais para incentivar as pessoas a se cadastrarem como doadoras.
"Eu sou muito grata pela vida da Giovanna porque ela não salvou só a minha vida, ela devolveu uma filha para os meus pais, uma irmã para os meus irmãos, ela deu uma chance para uma família inteira. Por isso eu a considero uma irmã de sangue , literalmente porque a doação da medula é através da transfusão de sangue."
A Duda ainda não pode ser considerada uma pessoa curada, mas ela realiza exames periódicos e nos últimos meses não há registro de evolução das células cancerígenas.