Paineira Tupã

O preço do azeite disparou por causa da seca que atinge os maiores produtores mundiais. Se você encontrar o produto muito barato, desconfie.

O aumento dos preços é um fenômeno global provocado principalmente pela seca, que reduziu quase pela metade a produção nos países que mais exportam o azeite no mundo: Itália, Espanha e Grécia.

Segundo levantamento da empresa de inteligência de mercado Horus, a partir do acompanhamento de mais de 40 milhões de notas fiscais por mês, o preço médio do azeite virgem nos supermercados brasileiros estava em R$ 20 em julho de 2021, subindo a R$ 25 em igual mês de 2022 e a R$ 30 este ano.

Trata-se de uma alta de 50% do preço médio do produto em dois anos, comparado a uma inflação acumulada de 15% neste período, segundo o IPCA do IBGE (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Aqui em Tupã, o produto pode ser encontrado entre mais de R$ 30 e até quase R$ 50 dependendo do tamanho da embalagem em alguns supermercados. Veja os preços encontrados em dois supermercados da cidade:


Preço do azeite dispara em meio à queda na produção global/Foto: Bruna de Pieri

Preço do azeite dispara em meio à queda na produção global/Foto: Bruna de Pieri

E aos amantes do azeite, uma má notícia: não há perspectiva de melhora nos preços do produto à frente. Com estoques globais nas mínimas históricas, projeções ruins para a próxima safra na Europa e a expectativa de avanço das mudanças climáticas, os preços altos devem ser o "novo normal", dizem analistas ouvidos pelo site BBC News Brasil.

Por que o preço do azeite explodiu

Em agosto, o preço do azeite na região da Andaluzia, na Espanha – país responsável por mais de 40% da produção global do óleo – está em 8,20 euros (R$ 44,60) por quilo, mais do que o dobro (+116%) dos 3,80 euros por quilo de igual mês de 2022 e recorde histórico.

Na Itália, os preços do azeite estão em alta de 98% em relação ao ano passado e, na Grécia, o avanço é de 114%, segundo levantamento da empresa de inteligência de mercado e preços de commodities Mintec.

Os três países, além de Portugual, produzem juntos 66% de todo o azeite do mundo, segundo dados do Conselho Oleícola Internacional (IOC, na sigla em inglês), organização que reúne os países produtores de azeitona e azeite de oliva.

"Para explicar a alta nos preços do azeite é preciso voltar à safra passada", diz Kyle Holland, analista de óleos vegetais da Mintec, à BBC News Brasil.

"Os principais países exportadores de azeite tiveram um período de crescimento [das azeitonas, os frutos das oliveiras] muito, muito seco. As árvores não tiveram umidade suficiente e muitas delas não produziram nenhum fruto", relata Holland.

A Espanha, por exemplo, produz normalmente entre 1,3 e 1,5 milhão de toneladas métricas de azeite por ano, observa o analista – cada tonelada métrica equivale a 1.000 quilos.

Mas, na safra 2022/2023, estima-se que o país tenha produzido apenas 610 mil toneladas do óleo, segundo Holland.

Senhor, mandai-nos chuva!

A situação dos olivais da Espanha é tal que, em maio, o bispo Sebastián Chico Martínez, da cidade de Jaén, na Andaluzia, liderou uma procissão religiosa onde os fiéis clamaram aos céus por chuva – a província de Jaén tem mais de 60 milhões de oliveiras e produz 40% de todo o azeite espanhol.

Uma procissão pedindo chuva não acontecia na região desde 1949, segundo a imprensa local.

 

Procissão em Jaen em 1º de maio de 2023 pedindo por chuva

CRÉDITO,DIOCESE DE JAEN
Senhor, mandai-nos chuva! , clamaram os fiéis em procissão na província olivícola de Jaén, na Espanha

"Sem água, não há azeitona, e sem azeitona, a província sofre", disse o bispo à época, segundo o jornal espanhol El País. Com a fraca safra, os estoques de azeite na Espanha eram estimados pela Mintec em 205 mil toneladas em junho, um baixo patamar sem precedentes.

"Não estamos falando apenas do azeite de alta qualidade, mas de todo o azeite que está nas mãos dos produtores. Então há uma preocupação de que, com o passar do ano e até que comece a próxima safra [em outubro], os estoques de azeite possam chegar a zero na Espanha", diz Holland.

Efeitos para o Brasil

O Brasil é o segundo maior importador de azeite do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e à frente de Japão, Canadá, China e Austrália – os seis países e a União Europeia (um bloco de países) representam juntos quase 80% das importações globais do produto, segundo o Conselho Oleícola Internacional.

Ainda conforme o organismo internacional, o país importava antes da crise atual pouco mais de 100 mil toneladas métricas de azeite por ano, ou cerca de 100 milhões de litros.

A produção nacional de azeite deve chegar a pouco mais de 705 mil litros em 2023, segundo dados do Ibraoliva (Instituto Brasileiro de Olivicultura), entidade que reúne os produtores brasileiros de azeitonas e azeite de oliva.

Gráfico de barras mostra parcela dos principais mercados na importação de azeite

Ainda conforme o organismo internacional, o país importava antes da crise atual pouco mais de 100 mil toneladas métricas de azeite por ano, ou cerca de 100 milhões de litros.

A produção nacional de azeite deve chegar a pouco mais de 705 mil litros em 2023, segundo dados do Ibraoliva (Instituto Brasileiro de Olivicultura), entidade que reúne os produtores brasileiros de azeitonas e azeite de oliva.

Tabela mostra produção de azeite no Brasil em 2023, por Estados
Assim, apesar de crescente, a produção nacional de azeite não chega a 1% do consumo local do produto, o que torna o mercado brasileiro bastante suscetível às variações de preços globais.

"Até julho, foram importadas 39 mil toneladas de azeite de oliva extra virgem, isso representa menos 20% em relação a igual período do ano anterior", diz Rita Bassi, presidente da Oliva (Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira), entidade que reúne as principais empresas do setor, como Gallo, Andorinha, Borges, Cocinero, Cargill, entre outras.

"Além da importação menor, o preço médio de importação esse ano está 34% maior, então obviamente não tem como não ter um aumento de preço no produto", diz a executiva.

"As empresas estão fazendo todos os esforços para não colocar no preço todo esse problema mundial. Elas estão segurando [reajustes], mas obviamente não dá para fazer isso na sua totalidade e durante muito tempo", acrescenta.

Segundo a presidente da associação, uma das estratégias das empresas para se adaptarem ao cenário de preços mais altos tem sido oferecer aos consumidores embalagens menores, a preços mais acessíveis.

Bassi alerta, porém, para um problema decorrente da alta de preços: o aumento da venda de azeites adulterados no país.

Azeite apreendido pela Polícia Federal em Foz do Iguaçu, em maio de 2023
CRÉDITO,DIVULGAÇÃO/POLÍCIA FEDERAL
Azeite apreendido pela Polícia Federal em Foz do Iguaçu, em maio de 2023  

"Quando há um cenário de escassez da oferta e aumento do preço da matéria-prima, aparecem os oportunistas e a fraude aumenta muito", afirma a executiva.

"Portanto, recomendo aos consumidores: cuidado com a marca que você compra, evite marcas desconhecidas. Fique atento ao preço, pois milagres não existem. E tente aproveitar as promoções no varejo das marcas que você já conhece e confia."

Azeite em alta, óleo de soja em baixa

Enquanto o azeite fica cada vez mais caro, o oposto acontece com o óleo de soja, que registra queda de preços de 37% no acumulado de 12 meses até julho, segundo o IBGE.
 
"Com a safra recorde, o preço do óleo de soja no mercado local vem baixando e puxando os demais [óleos vegetais] para baixo", diz Laura Pereira, especialista em óleo de girassol e azeite de oliva da Aboissa Commodity Brokers.

Embalagens de óleo de soja
CRÉDITO,GETTY IMAGES

"Temos milho, girassol e canola, que são produtos mais premium, e mesmo eles têm acompanhado a variação do óleo de soja", observa a analista.

Segundo Pereira, essa combinação de fatores pode levar os brasileiros a reduzirem o consumo de azeite, que já é baixo na comparação internacional.

Segundo o Conselho Oleícola Internacional, os brasileiros consomem 0,4 kg de azeite por pessoa por ano, comparado a 11,5 kg na Grécia, 10,6 kg na Espanha e 7,5 kg na Itália, os maiores consumidores de azeite per capita do mundo.

"Essa variação tão grande [de preços do azeite e do óleo], num país de terceiro mundo com uma cultura de consumo de soja, vai fazer com que a gente segmente mais [o consumo de azeite] entre as classes sociais", diz Pereira.

"Vamos ter mais gente consumindo óleo de soja", acredita a analista. "Mesmo para os óleos de milho, canola e girassol, já está havendo essa substituição. Se isso acontece com produtos que são mais próximos em preço [ao óleo de soja], imagina com o azeite de oliva, que hoje está passando dos R$ 30 na gôndola."

pref educação

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