Um artista plástico de Botucatu (SP) se uniu a uma marca de leite para trazer ao Brasil uma campanha inspirada na iniciativa já popular nos Estados Unidos desde a década de 1980 de estampar os rostos de pessoas desaparecidas em caixas de leite.
Hidreley Diao conta que foi procurado pela marca por meio da ONG Mães da Sé, para a qual ele já realiza trabalho voluntário. O artista utiliza inteligência artificial para projetar como estariam hoje pessoas desaparecidas há muitos anos.
Fundada em 1996, a ONG Mães da Sé tem sede em São Paulo (SP) e oferece apoio emocional, orientação jurídica e ajuda prática às famílias que buscam por filhos desaparecidos.
“Eles (da ONG) tiveram um papel crucial na escolha do meu trabalho para o projeto, e depois fui contatado por uma agência para formalizarmos a colaboração”, explicou Hidreley.
Trabalho com inteligência artificial:
O trabalho de Hidreley já alcançou grande visibilidade no Brasil, principalmente após ele fazer uma projeção de como os integrantes do grupo Mamonas Assassinas seriam estivessem vivos hoje. Internacionalmente, seu talento também chamou atenção, com pedidos de personalidades como Madonna e Eric Clapton.
Lisiane Campos, diretora de marketing da empresa de laticínios, explicou que a campanha busca utilizar a popularidade dos produtos da marca para apoiar a ONG na divulgação dos desaparecidos.
“É uma forma que encontramos de aproveitar um espaço já existente nas embalagens para um marketing com foco no social. O resultado mais desejado com a parceria é contribuir para que os reencontros aconteçam e que as famílias afetadas pelo desaparecimento possam se reunir novamente”, afirma Lisiane.
Processo de projeção:
Segundo Hidreley, a projeção do envelhecimento pode levar de 4 a 5 horas. Ele faz uma análise detalhada das características do desaparecido com o auxílio da inteligência artificial e de fotos de parentes.
“Eu aplico técnicas de arte digital, utilizando inteligência artificial e ferramentas como o Photoshop. Quando faço as progressões, especialmente para crianças, uso também fotos de familiares para garantir mais precisão”, contou o artista.
Hidreley explicou que, além dos desafios técnicos, há também questões emocionais envolvidas, principalmente por conta da idade das fotos originais.
“Um dos principais desafios é lidar com fotos de baixa resolução, mas a tecnologia atual tem ajudado a minimizar esse problema. Além disso, a carga emocional é intensa, especialmente quando se trata de crianças”, revelou.
Expansão da campanha:
Atualmente, os rostos dos desaparecidos aparecem apenas nas embalagens de leite da marca, mas há planos para expandir a campanha para outros produtos do grupo.
A iniciativa também conta com um site, onde o público pode conferir as projeções e fornecer qualquer informação que possa ajudar na busca pelos desaparecidos.
“Minha expectativa é enorme, pois espero que as projeções aumentem a esperança das famílias. Muitas já expressaram felicidade com a exposição dos rostos, e espero que isso leve a novas informações que ajudem a encontrar os desaparecidos”, conclui o artista digital.