Tramita no Ministério Público Federal de Marília o inquérito civil referente ao caso da tupãense que registrou possíveis irregularidades em seu prontuário médico, emitido pelo Hospital São Francisco, entre os anos de 2001 a 2012. Em um dos atendimentos registrados no relatório do hospital há, inclusive, uma cirurgia para retirada de câncer de próstata.
A paciente de identidade não revelada, devido possíveis represálias, constatou 173 atendimentos registrados em seu prontuário médico, dos quais 127 ela diz ter certeza que não passou.
A paciente moveu representação no Ministério Público de Tupã, no dia 6 de dezembro de 2016, denunciando as possíveis irregularidades cometidas pelo hospital.
O Hospital São Francisco explicou que não possui o relatório de procedimentos da paciente devido a troca do seu sistema de informação.
No relatório a que o DIÁRIO teve acesso, o prontuário informa que, no dia 26 de setembro de 2005, às 10h51 min, a paciente deu entrada no hospital para ser atendida pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O documento emitido pelo hospital não informa qual foi o atendimento prestado, que deveria ser incluso na CID (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde).
Após dois minutos, às 10h53 min, o prontuário registrava uma nova entrada da paciente no hospital, por meio de convênio com a Unimed, para atendimento de um ferimento no cotovelo que ela nega.
Como os atendimentos eram financiados com verbas do SUS, o inquérito civil foi encaminhado para o Ministério Público Federal de Marília. Vale lembrar que, no mês de dezembro de 2016, a 4ª Promotoria de Tupã havia requisitado a instauração de inquérito policial contra a entidade hospitalar.
O procurador Federal de Marília, Diogo Fajardo, entrou em contato com a paciente na última terça-feira, dia 22, e apresentou a documentação juntada pelo Hospital São Francisco, para reconhecimento dos exames que ela, realmente, havia passado. "Foram juntados apenas os atendimentos que ela passou. Havia registros de atendimentos realizados na época em que ela morava na cidade de São Paulo", afirmou o advogado da paciente, André Gustavo Zanoni Braga de Castro, conhecido como "Pena".
Caso
No ano de 2013, a paciente chegou ao hospital sentindo contrações e informou ao médico que estava com pré-eclâmpsia (doença hipertensiva específica da gravidez) e solicitou que o profissional fizesse o parto por cesárea.
Segundo a paciente, o médico disse que ela estava "com frescura" e não estava com a doença.
A paciente, que é enfermeira, disse que precisava passar pelo procedimento cirúrgico, mas o médico cobrou R$ 5 mil para fazer a cesárea. Como ela não tinha dinheiro para o procedimento, teve que ser internada.
O advogado disse que, por três dias, a paciente foi medicada fazendo uso de Neozine (medicamento antipsicótico e sedativo), que pode gerar aborto. "O médico disse que esse medicamento foi usado para acalmá-la. Mas ela perdeu o bebê por uso desse medicamento", destacou. A fatalidade aconteceu no dia 2 de novembro de 2013.
Segundo "Pena", o laudo juntado pela defesa do médico explica que ele tratou a paciente com sintomas de pré-eclâmpsia. "Mas ele se contradiz, pois inicialmente ele havia informado que a paciente não estava com essa doença", salientou.
Outro lado
A defesa do Hospital São Francisco explicou em ofício encaminhado ao Ministério Público de Tupã, que a paciente realizou diversos atendimentos no hospital, que variam desde simples atendimentos ambulatoriais até a realização de procedimentos cirúrgicos de maior complexidade. "Todos os atendimentos prestados à referida paciente foram regulares e constam corretamente nos prontuários médicos, devidamente assinados pelos responsáveis (médicos e a própria paciente)", afirmou.
Em relação à cirurgia de próstata inclusa no prontuário da paciente, o Hospital São Francisco acredita que devido a troca de seu sistema de informação, promovida há alguns anos, "que resultou em grande migração de dados de diversos atendimentos e usuários do sistema antigo para o atual", é possível que isso tenha gerado um prontuário com alguns códigos ou informações errôneas. "É provável também que, nesta transição do sistema de informação, tenham ocorrido erros na inserção de dados referentes aos usuários e aos proprios atendimentos. Todavia, não houve má-fé ou tampouco fraude em prejuízo alheio", explicou. "O nosocômio disponibiliza todos os seus profissionais para eventuais esclarecimentos no inquérito civil instaurado", concluiu.
Redação Diário de Tupã