Jovem perde namorada de 26 anos por Covid após um ano morando juntos: Me ensinou o que é amor
18/05/2021 Raul de Luca Mosca também pegou coronavírus e ficou internado, mas se recuperou. Neste período, ele ajudou a cuidar de Amanda Araújo e da mãe dela, que também morreu de Covid.
A pandemia de coronavírus aproximou os jovens Amanda Araújo e Raul de Luca Mosca. Foi neste período que os dois começaram a namorar e também a morar juntos em Bauru (SP). No entanto, quase um ano depois, o casal foi diagnosticado com Covid-19, o que mudou os planos da família.
Raul, Amanda e a mãe dela, Elaine Araújo, contraíram coronavírus e tiveram que ser internados. Raul se recuperou, mas a jovem de 26 anos e Elaine não resistiram às complicações da doença e morreram.
Jovem perde namorada de 26 anos por Covid após um ano morando juntos — Foto: Raul de Luca Mosca/Arquivo pessoal
Neste período, Raul ajudou a cuidar da namorada e da sogra e, apesar da imensa dificuldade que passou ao lado delas nos últimos dias, Raul contou que o ano em que passou morando com Amanda foi o melhor da vida dele.
"Eu não tenho palavras para dizer o quão incrível ela era. Ela fez parte da minha vida. Foi o melhor ano que eu tive na vida porque ela me ensinou o que é o amor de fato."Uma história de amor
Amanda e Raul se conheceram na primeira série em São Paulo — Foto: Raul de Luca Mosca/Arquivo pessoal
A história de Amanda Araújo e Raul de Luca Mosca começou há muitos anos, quando os dois estudaram juntos na primeira série em São Paulo. Com o tempo, os dois se afastaram, Amanda mudou-se para Bauru e, em meio à pandemia de coronavírus, acabaram fortalecendo os laços.
Os jovens começaram a conversar pela internet, iniciaram um namoro à distância e, em maio do ano passado, Raul passou a morar com Amanda e a mãe dela. Segundo ele, a ideia era apenas visitá-las, mas com o passar do tempo, decidiram fixar a relação em Bauru.
Segundo Raul, os dois viveram praticamente um casamento no último ano, e ele também ficou muito próximo da mãe da Amanda. "A pandemia me tirou do meu emprego e eu falei: quer saber? Vou fazer minha vida em Bauru . E depois de cinco meses, eu consegui um emprego aqui", conta.
"A gente estava tendo uma vida muito boa, a gente era muito feliz. Quando a pandemia apertou, a gente ficou muito em casa e, durante um bom tempo, era ela em casa e eu só saía para trabalhar, mas a gente tinha uma relação muito gostosa. É a coisa que eu mais sinto saudade", lembra Raul.
Dias difíceis
Em abril deste ano, Raul e Amanda foram visitar o avô em São Paulo. Segundo o jovem, não é possível afirmar que os dois pegaram coronavírus na viagem, mas eles começaram a sentir os sintomas alguns dias depois de retornarem.
"Nossos sintomas ficaram fortes, começou inflamação no pulmão, tosse, dor de cabeça, mal estar, dores no corpo. A Amanda tinha asma, então ela sentia falta de ar já bem antes da Covid, então a gente não levava muito os sintomas dela como parâmetro, mas como eu não ficava doente por nada, isso começou a preocupar", lembra Raul.
Enquanto esperavam atendimento em Bauru, Raul tirou a última foto que tem com Amanda — Foto: Raul de Luca Mosca/Arquivo pessoal
No dia 16 de abril, a família procurou o pronto atendimento e Amanda já ficou internada no Hospital São Francisco. Enquanto esperavam atendimento, Raul tirou a última foto que tem com Amanda, na recepção da unidade.
"Ali foi o último dia que eu tive contato com a Amanda viva. Depois eu levei minha sogra para a UPA, porque ela não tinha convênio. Ela foi medicada e eu fiquei aguardando do lado de fora. Foi lá que a Amanda me mandou mensagem e avisou que ela ia ficar internada, mas seriam só três ou quatro dias", conta.
Neste dia, Raul disse que Elaine também deveria ter ficado internada, mas não quis para que pudesse cuidar da filha. Por isso, a médica pediu que ela prometesse tomar todos os remédios corretamente para que fosse liberada.
"Voltamos para casa. No dia seguinte, a Amanda me informou que estava indo para uma semi-UTI, e eu acordei muito mal e, naquelas condições, nós tivemos que sair atrás de fralda para levar para Amanda, foi um dia horrível. Depois levei a Elaine pra UPA novamente. Eu estava assustado, com muito medo, mas durante o tempo todo eu me mantive centrado, eu conseguia seguir em frente, mas a Elaine não. Ela estava num estado mental bastante conturbado", lembra o jovem.
No mesmo dia, Raul foi ao pronto-socorro novamente e ficou hospitalizado no São Francisco, mesma unidade que a Amanda. Como estava na enfermaria, ele disse que conseguia resolver os problemas e ajudar Elaine e Amanda de dentro do hospital.
Neste período, Elaine chegou a ter alta, mas voltou a ser hospitalizada no dia 24 de abril, na UTI do Hospital Estadual. "Ela não podia ter tido alta, mas ela fazia questão porque ela queria ajudar a Amanda. Mas com a Amanda intubada, em coma induzido, não tinha o que fazer", afirma Raul.
O jovem teve alta do hospital no dia 23 e continuou o tratamento em casa. Raul contou que passou os dias arrumando o local para quando a namorada e a sogra voltassem, ao mesmo tempo em que acompanhava os boletins médicos que o hospital mandava.
"Eu tinha fé que elas iriam melhorar, mas a cada dia que passava, elas só pioravam, e isso ia desmotivando a gente. Conforme eu ia melhorando, eu ia arrumando a casa, que estava uma bagunça. Eu organizei tudo pra que, quando elas voltassem, elas tivessem que se preocupar somente com a recuperação."
No dia 1º de maio, Amanda sofreu um ataque cardíaco e não resistiu. Raul voltou para São Paulo e uma amiga da Elaine assumiu os cuidados dela no hospital. Nove dias depois, Elaine também morreu.
"O meu papel nisso tudo foi ficar até o final com a Amanda. Depois disso, eu voltei pra São Paulo e comecei a cuidar de mim, aguardando notícias da Elaine porque já tinha cuidado de tudo e deixado nas mãos dessa amiga dela.""A Elaine também foi como uma mãe pra mim, cuidava de mim assim como ela cuidava da Amanda. Eu sou muito grato por tudo isso, e muito grato pela Amanda por tudo, pelos momentos bons e ruins que passamos juntos, que me fizeram aprender, amadurecer e me fizeram entender as coisas mais importantes da vida", completou Raul.
Uma não ficava sem a outra
Por causa do convênio, Amanda e Elaine Araújo ficaram internadas em hospitais diferentes na cidade, mas lutaram sempre juntas contra a doença.
A jornalista Juliana Costa Neves, amiga de Amanda, e que acompanhou os boletins médicos que eram enviados sobre as duas quando estavam na UTI, contou ao G1 que mãe e filha eram bastante próximas e foram piorando ao mesmo tempo.
"A Elaine não soube da morte da filha Amanda, ela já estava sedada. E eu fiquei pensando que talvez foi melhor ela não saber mesmo. Se a tia voltasse boa, ela ia sofrer mais ainda. Ela sempre falava pra mim que não conseguiria ficar sem a Amanda. Era muito complicado. Uma não ficava sem a outra", conta Juliana.