Estudo feito na pandemia indica que uma a cada quatro crianças tem depressão ou ansiedade
03/05/2022 Terapeutas dizem que mudanças no comportamento podem ser sinais de alerta.
Os dados sobre saúde mental na infância são preocupantes, e o volume de casos de transtorno se intensificou durante a pandemia. É isso que aponta um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) que acompanhou 7 mil crianças e adolescentes, em 2020.
Conforme a pesquisa, um em cada quatro crianças e adolescentes sofre de depressão e ansiedade. "A pandemia é uma situação de estresse que pode levar ao desenvolvimento ou ao agravamento desses transtornos mentais", afirmou o coordenador da pesquisa e psiquiatra, Guilherme Polanczyk.
Pais procuram ajuda
Isadora Veiga tinha apenas cinco anos de idade quando os pais começaram a notar diferenças no comportamento dela. A menina apresentava resistência em ir para a escola, além de ter medo de dormir e crises de choro. A mãe, Edilaine Veiga, logo estranhou e decidiu buscar a ajuda com terapia.
"Na verdade foi uma coleguinha de sala que perdeu a mãe em um acidente e começou a dividir isso na sala de aula. Ia para a sala de aula, chorava, e ela viveu tanto aquilo, a emoção da amiga perder a mãe, que ela começou a ter esses sintomas de ansiedade, medo, agitação para dormir" explica a mãe.
Os sintomas foram diminuindo ao longo de dois anos de acompanhamento com a psicóloga. Edilaine diz que a terapia só trouxe benefícios para a vida da filha, atualmente com 8 anos de idade.
"Ela teve uma resposta muito rápida para a mudança. Ela começou a identificar isso, começou a tratar o trauma que ela teve e a gente começou a ver outras além disso também" completou.
Layna Nunes é médica psiquiatra e viveu situação similar em casa. Ela percebeu rapidamente a mudança no comportamento do filho.
Ela explica que o fato de ser profissional da área não criar uma proteção para ela ou para que qualquer familiar não fique doente.
"O que me favorece é ter uma mente aberta ao invés de ficar exitando de procurar ajuda, procurar imediatamente".
Quando buscou ajuda para o filho, Layna notou a diferença na autoestima da criança.
"Depois de aproximadamente um mês de terapia, foi onde ele conseguiu se abrir comigo. Esse processo de terapia foi muito legal porque ela ajudou ele a desenvolver uma autoestima."
Prevenção
Para a psicóloga Tatiane Navega, as principais queixas das crianças começam na escola, perdendo o interesse nas atividades. Por isso, é importante os pais sempre estarem em contato com o colégio e professores.
"Se é uma criança muito extrovertida, ela fica mais introvertida, ou uma criança muito mais sociável, que começa a ficar mais retraída", explica Tatiane.
Segundo a psicóloga Aline Niemeyer, é preciso observar muito os pequenos. "A criança não vai falar que está triste, com depressão. A criança vai se expressar de uma outra forma".
Para ajudar os pais, professores e as crianças a identificar os possíveis sinais de transtornos mentais, Aline escreveu o livro "Posso ser feliz vencendo a depressão na infância".
O material ajuda a identificar todo o processo de uma forma didática. Ela explica que as imagens podem fazer com que a criança se conecte com o que está vivendo e a partir dessa conexão, começa a melhorar os sintomas.
O livro tem o foco na superação da depressão, mas pode ser preventivo também.