Padre Robson tem direitos de realizar celebrações suspensos temporariamente, em Goiás
24/08/2020 Ele pediu afastamento da Associação Filhos do Pai Eterno, que administra o Santuário Basílica de Trindade. Padre é investigado por desvio de dinheiro para compra de imóveis e nega acusações.
O arcebispo metropolitano Dom Washington Cruz suspendeu temporariamente neste domingo (23) o direito de realizar celebrações do padre Robson de Oliveira, investigado por supostos desvios de dinheiro de doações para comprar fazendas, casa na praia e outros itens de luxo. O religioso, que era reitor da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), responsável pelo Santuário Basílica de Trindade, nega qualquer irregularidade.
Segundo a nota à imprensa o objetivo é "tutelar os fiéis e garantir a imparcialidade das investigações”. Padre Robson pediu afastamento da Afipe na sexta-feira (21), após o Ministério Público realizar a Operação Vendilhões.
De acordo com as investigações, em dez anos, a Afipe movimentou R$ 2 bilhões. O MP apura se R$ 120 milhões foram usados para finalidades fora das atividades religiosas. Entre as transações investigadas estão a compra de uma fazenda no valor de R$ 6,3 milhões e uma casa de praia na Bahia por R$ 2 milhões.
O decreto da Arquidiocese de Goiânia que suspendeu os direitos do padre de realizar celebrações diz que a medida é devido à "necessidade de prevenir escândalos, garantir o curso da Justiça e tutelar a fé, bem como investigar as acusações realizadas contra o padre Robson de Oliveira”.
O documento traz ainda que a medida tem caráter administrativo, não penal. Não foi estipulado um período para essa suspensão.
Em nota, o padre Robson informou que recebeu com humildade a revogação temporária do uso de ordens e que se trata de um procedimento prévio no direito canônico. "O maior interessado no esclarecimento de todas as questões e na total transparência de todas as suas ações é o próprio padre Robson”, diz o comunicado.
Segundo o Ministério Público, a entidade presidida pelo padre recebia cerca de R$ 20 milhões em doações mensalmente. O dinheiro seria usado, entre outras finalidades, para a construção da nova Basílica, orçada, inicialmente, em R$ 100 milhões. A construção, que tinha previsão de entrega para 2022 e foi adiada para 2026, ainda está na fase de fundação.
Doações de fiéis
Os promotores apontam que Robson criou "várias associações com nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome”. Conforme apurado pelo MP, as filiadas da Afipe também são voltadas para a "evangelização por meio da TV, para obras sociais e para a construção da Nova e Definitiva Casa do Pai Eterno, em Trindade” e que, para esse fim, recebem doações de fiéis de todo o Brasil.
Entre anos de 2016 e 2018, os donativos atingiram um montante de mais de R$ 746 milhões, de acordo com o órgão, que investiga se parte do valor, aproximadamente R$ 120 milhões, foi desviado para empresas e pessoas investigadas no processo.
De acordo com o MP, a Afipe se tornou "uma grande empresa”. Algumas empresas com as quais a associação negociava tinham os mesmos sócios e funcionavam no mesmo endereço.
Caso de extorsão originou ação
De acordo com o MP, a operação se originou por conta de outra investigação vinculada ao padre Robson. Conforme o apurado, na ocasião, o religioso, após ser vítima de extorsão, "utilizou indevidamente recursos provenientes de contas das associações que preside".
Um hacker chegou a ser condenado em março do ano passado por extorquir R$ 2 milhões do padre, ameaçando revelar um suposto caso amoroso. Porém, a polícia apontou que as mensagens usadas na tentativa de extorsão eram falsas.
A investigação apontou que o padre foi extorquido durante dois meses, entre março e abril de 2017, e que teria repassado parte do valor solicitado usando dinheiro da Afipe. No entanto, na ocasião, a entidade disse que "não teve nenhum prejuízo financeiro e todo o valor já voltou para a instituição”.
De acordo com as investigações, o dinheiro foi repassado por meio de transferências bancárias e entregas em espécie. Os pagamentos eram feitos em quantias de R$ 50 mil a R$ 700 mil. Em alguns casos, o valor era deixado dentro de um carro na porta de um condomínio ou no estacionamento de um shopping da capital. Uma das entregas foi supervisionada pela Polícia Civil a fim de identificar e localizar todos os criminosos.