A recente escalada do preço do barril de petróleo no mercado global deve impactar no aumento do valor dos combustíveis nas bombas dos postos brasileiros.
A política de seguir as variações do mercado internacional mantida pela Petrobras e o compromisso com os acionistas privados dão brecha para que a estatal faça um novo reajuste para cima nos próximos dias, mesmo que isso gere ainda mais pressão sobre a inflação e agrave o descontentamento da população.
A variedade de conjunturas consideradas para a alta dificulta previsões certeiras de quando o aumento vem, e, principalmente, para quanto o litro vai. Porém, analistas chamam a atenção para a tendência de subida do preço do barril no mercado lá fora, o que torna cada vez mais factível o cenário onde o brasileiro vai precisar pagar mais de R$ 8 pelo litro da gasolina.
Pesquisa feita pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra que o preço médio do litro da gasolina é R$ 6,60, mas que há lugares no Brasil onde já se cobra até R$ 7,89. A Petrobras promoveu na segunda semana de janeiro reajustes de 5% e 8% no litro da gasolina e do diesel, respectivamente, vendido às distribuidoras. A estatal afirma que evita fazer reajustes de imediato em reação às variações internacionais. Para Edmar de Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio, o cenário atual é apertado. "Por uma estratégia de mercado, a Petrobras não anuncia quando vai fazer um novo. Mas ela está sem espaço, não vai ter como segurar esse preço por muito tempo", afirma o especialista.
O segmento de importação de combustíveis chama a atenção para que, apesar da recente mudança nos preços, a estatal mantém uma defasagem na comparação com o praticado lá fora. A escalada no preço do barril nos mercados internacionais tende a alargar essa valorização e pressionar novamente a empresa a aumentar os preços nas próximas semanas. "Pelo compromisso que a empresa tem com os seus acionistas minoritários, é estranho que o mercado suba de preços e a Petrobras não acompanhe", afirma Sérgio Araújo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
Aumento da demanda e tensões empurram cotação para cima
A nova onda de subida do barril do petróleo no exterior é impulsionada pela desorganização do mercado com a queda da produção e o aumento da demanda. Contrariando as análises iniciais, a variante Ômicron não levou à retomada de medidas de restrição, o que consequentemente causaria a desaceleração da economia. Pelo contrário, com países como o Reino Unido indicando o fim das políticas de distanciamento, a busca pela commodity cresceu, mas bateu de frente em um mercado com pouca oferta para suprir a necessidade. Na quinta-feira, 20, o preço do barril tipo brent, usado como referência pela Petrobras, passou dos US$ 89, a maior cotação desde julho de 2014. O valor cedeu durante a sexta-feira, mas fechou a semana com alta acumulada de mais de 10% apenas em 2022.
Como fatores secundários, o preço do barril está sendo elevado pelo aumento de tensões ao redor do globo. Neste ponto, a principal pressão está vindo da possível invasão da Ucrânia por tropas da Rússia, o segundo maior produtor de petróleo no mundo. Novos conflitos entre rebeldes do Iêmen e a Arábia Saudita também contribuem para a desestabilização do mercado. Como nenhum desses fatores dá sinais de arrefecimento no curto prazo, analistas já consideram a possibilidade de o barril romper novamente a barreira dos US$ 100 nos próximos dias. Caso se concretize, será a primeira vez que a cotação sobe aos três dígitos em quase sete anos.
Dólar em queda pode arrefecer preços
A cotação do barril de petróleo é um importante mensurador do preço no mercado doméstico, mas não é o único. A conta também passa pela cotação do dólar, já que o valor de compra da commodity é pago na moeda norte-americana. Neste campo, o mercado brasileiro está em vantagem com a recente desvalorização do câmbio, que desde o começo do ano acumula queda de 2%. Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), pontua que essa volatilidade do mercado faz com que a Petrobras aguarde alguns dias antes de tomar uma nova decisão. "O repasse não é imediato. A empresa tem caixa e estoque, e uma série de coisas influenciam a velocidade do repasse", afirma.
Os combustíveis foram os principais vilões que levaram a inflação para 10,16% — quase o dobro do limite máximo — em 2021. O etanol foi o produto que mais subiu, registrando variação de 62%, enquanto a gasolina teve aumento de 47%, e o diesel, de 46%. Um novo reajuste da Petrobras poderia manter a pressão dos combustíveis, além de espalhar por toda a cadeia de produção por tabela. "Não é apenas o preço da gasolina. O óleo diesel implica diretamente no transporte de cargas e passageiros. Certamente essa elevação vai provocar o aumento de tarifas", diz Cláudio Considera, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Jovem Pan