Prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga, é afastado do cargo
06/11/2025
Fonte: Folha de SP
A decisão é imediata, e o vice-prefeito Fernando Martins da Costa Neto (PSD) assumiu a gestão nesta quinta.

Rodrigo Manga (Republicanos), prefeito de Sorocaba, interior de São Paulo, foi afastado do cargo nesta quinta-feira (6), a pedido da Polícia Federal. A decisão é do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
A decisão é imediata, e o vice-prefeito Fernando Martins da Costa Neto (PSD) assumiu a gestão nesta quinta.
"Em conformidade com a legislação vigente e o princípio da continuidade administrativa, o vice-prefeito Fernando Martins da Costa Neto assumiu, nesta quinta-feira (6), o cargo de prefeito de Sorocaba, até que os fatos sejam esclarecidos, garantindo a plena continuidade dos serviços públicos e o funcionamento regular da Administração Municipal", afirmou a prefeitura, em nota.
A PF fez a segunda fase da Operação Copia e Cola para apurar supostos desvios envolvendo a contratação de uma organização social sem fins lucrativos pela Prefeitura de Sorocaba, por meio de contrato emergencial e termo de convênio para fazer a gestão de unidades de saúde.
Duas pessoas foram presas preventivamente e sete mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Os mandados foram expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
A Justiça também determinou o sequestro e a indisponibilidade de bens de alguns dos investigados, no valor aproximado de R$ 6,5 milhões, além da aplicação de medidas cautelares como suspensão de função pública e proibição de contato com determinadas pessoas.
Segundo a PF, a análise do material apreendido na primeira fase da operação, realizada em 10 de abril de 2025, permitiu identificar novas pessoas físicas e jurídicas supostamente envolvidas no esquema, que são alvos das diligências realizadas hoje.
A PF descobriu repasses da OS Iase, responsável pelo gerenciamento de unidades de saúde em Sorocaba, a empresas fantasmas. Uma delas estava sediada na avenida Paulista, em São Paulo, e recebeu R$ 1,5 milhão a título de plantões de serviços médicos.
Mas o endereço existia apenas no papel. Diligências in loco de agentes revelaram que a empresa nunca esteve no endereço. Situações semelhantes ocorreram com outras prestadoras de serviços da OS.
Fontes da Polícia Federal disseram à reportagem ter identificado subcontratações em série, o que dificulta a rastreabilidade dos recursos empregados, com indícios de peculato (desvio de verba pública).
O MPF vê indícios de que a OS alvo da operação tenha sido constituída para fins de fraudar procedimentos licitatórios e desviar recursos públicos.
Os investigados poderão responder pelos crimes de corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitação, lavagem de dinheiro, contratação direta ilegal e organização criminosa.
Manga usou as redes sociais para falar sobre o afastamento.
"Acredite se quiser, me afastaram do cargo de prefeito. Eu aqui em Brasília, ontem eu fui em frente o Palácio da Justiça, falei que tem que colocar o Exército na rua, rodei o Congresso, os deputados me receberam super bem, falando: Manga, cuidado, está aparecendo muito, estão tentando aí . O que a gente ouve de bastidores é que os caras tentam tirar do jogo qualquer um que ameaça a candidatura deles e você tem sido uma ameaça, tanto na questão do Senado, como em outros cargos. Gente, não deu outra", publicou em suas redes sociais.

Manga também foi um dos alvos da operação da PF realizada em abril, que apura a existência de uma organização criminosa suspeita de desviar recursos da saúde.
Policiais federais cumpriram 33 mandados de busca e apreensão, incluindo na casa do prefeito, na sede da prefeitura e na secretaria de Saúde, além do Diretório Municipal do partido Republicanos e da residência do antigo secretário de administração.
A investigação começou em 2022, após suspeitas de fraudes na contratação da OS Iase (Organização Social Instituto de Atenção à Saúde e Educação) para administrar, operacionalizar e executar ações e serviços de saúde no município. Também foram identificados, segundo a PF, atos de lavagem de dinheiro, por meio de depósitos em espécie, pagamento de boletos e negociações imobiliárias.
Em nota, a OS Iase afirma que "prestará todos os esclarecimentos e colaborará com as autoridades" assim que tiver acesso à investigação, que está em segredo de Justiça. O partido Republicanos foi procurado, mas não respondeu até a publicação deste texto.
O prefeito, à ocasião, disse que a operação ocorreu depois de se lançar candidato à presidente.
A Folha apurou que investigação identificou transações suspeitas que teriam sido feitas por uma igreja comandada por uma cunhada do prefeito e pelo marido dela. Os dois são identificados como bispos. A residência do casal e a sede da igreja foram alvos das buscas. No veículo de um dos investigados, policiais encontraram caixas com grandes quantidades de notas, totalizando R$ 863.854,00.
Foi determinado o sequestro de bens e valores em um total de até R$ 20 milhões e a proibição da OS investigada de ser contratada pelo poder público.

Manga, ou Rodrigo Maganhato, conseguiu a reeleição em primeiro turno com 73,75% dos votos válidos no ano passado. Em 2020, Manga havia sido eleito a em votação apertada, ao derrotar Jaqueline Coutinho (PSL).
Dono de uma estratégia de marketing agressiva, Manga posta vídeos curtos diariamente no Instagram e no TikTok. As peças rapidamente renderam a ele o apelido de "prefeito tiktoker", mesma alcunha dos também prefeitos João Campos (PSB), do Recife, e Topázio Neto (PSD), de Florianópolis.
"Vamos fazer dessa cidade a melhor cidade do Brasil para se viver", diz, ao encerrar todos os seus vídeos nas redes sociais. Em meio a esquetes de humor, o chefe do Executivo sorocabano viralizou pelo tom apelativo das produções e pela forma com que fala dos feitos da sua gestão.
Graduado em marketing, foi dependente químico por 14 anos. Em meados de 2007, conseguiu se recuperar por meio da igreja evangélica e fundou uma ONG de reabilitação para usuários. Ele conta a história na biografia "Governe sua Vida e Transforme o Mundo" (2023).
Começou na política com dois mandatos de vereador. No primeiro, pelo PP, teve atuação discreta, integrando o baixo clero da Câmara. No segundo, no Democratas, tornou-se presidente da Casa e atuou diretamente para a cassação do então prefeito José Crespo, seu colega de partido, em 2017.
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