HUM TUPÃ

*Rodrigo Calil Aviso: Se você é um militante de sofá esse texto pode ser prejudicial aos nervos. Não, o Brasil não está, o Brasil é dividido desde que eu me conheço por gente. Sempre fomos o país do Palmeirense x Corintiano e sempre tratamos esse tipo de divisão quase como um mandamento. No filme nacional "O casamento de Romeu e Julieta" de 2005, Julieta é a filha de Alfredo, torcedor fanático do Palmeiras, e se apaixona por um médico, torcedor do Corinthians. Para não desagradar à família da moça, ele finge torcer para o Palmeiras e se envolve em confusão. Essa rivalidade e esse dualismo é plantado em nós desde a infância. Você não pode torcer para o rival mesmo quando o seu time não está jogando. Basicamente, o seu time tem todas as qualidades do mundo e o time rival não presta pra nada. Essa irracionalidade é justificável, afinal a passionalidade é o principal ingrediente de paixões cegas, exceto quando alguém comete um crime por causa de futebol, aí nós nos perguntamos: "Por que ele fez isso? É só futebol". Além do futebol e outras causas de polarização, a nossa geração tem um agravante: "Nós fomos educados pela televisão". Sim nós consumimos novelas durante décadas sem percebermos que basicamente estávamos aprendendo a amar o mocinho e odiar o vilão. Essa forma de dualismo é tão prejudicial que muitas vezes eu vi entrevistas de artistas se dizendo vítima de agressões por causa dos seus personagens. Quando crescemos aprendendo que existem heróis e vilões, temos a tendência de procurá-los na vida real. Assim quando ouvimos uma notícia sobre uma operação policial com vários mortos o nosso cérebro já elege os mocinhos e os vilões automaticamente sem esperar qualquer tipo de investigação ou julgamento. Há quem acredite que os policiais são os vilões e por pura maldade fuzilaram pessoas inocentes, outros os tratam como heróis e isentos de qualquer crítica ou responsabilidade. Essa polarização ficou ainda mais evidente quando o brasileiro passou a se interessar por política. Juntamos a passionalidade irracional do futebol com a necessidade de elegermos um mocinho e um vilão, e essa mistura foi explosiva. Nosso político mocinho é sempre o "Salvador da Pátria", acima de qualquer suspeita e protegido de qualquer crítica. Às vezes ele é "O cara", outras vezes "O Messias". O mocinho está sempre certo e qualquer critica ou investigação contra ele é apenas fruto do ódio de algum vilão, muito malvadoque só quer ver a sua destruição por algum motivo irracional. Temos também o nosso político vilão. Esse é a escória do planeta, responsável pela poluição dos rios e queimadas na floresta, pela morte das pessoas e pelas pestes mundiais. O vilão está sempre fazendo de tudo para destruir a vida dos outros, por pura maldade. Ele é apenas ruim, ele não tem nada de bom e qualquer pessoa que reconheça qualquer qualidade nele é tão mau quanto ele. O vilão pode ser também o único responsável por 500 anos de corrupção, o pior ladrão do mundo, um bêbado mentiroso. Em qualquer um dos casos são pessoas que possuem apenas defeitos e maldade no coração e devem pagar por sua maldade, inclusive com a própria vida. Esse dualismo imposto socialmente pela nossa cultura nos divide desde sempre e nos impede de tomar atitudes racionais e perceber que ninguém é só bom e ninguém é só mau. Acredite, se você odeia alguém com quem jamais teve um contato pessoal, você está sendo manipulado, o mesmo acontece se você ama alguém com quem jamais conversou. Após a leitura desse texto você já pode ter me transformado em um vilão ou em um mocinho, mas eu garanto que sou tão humano quanto qualquer outra pessoa no mundo, inclusive os políticos.

Paineira Tupã

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