pref educação

Quando eu tinha mais ou menos oito ou nove anos de idade, lembro que estava entre a terceira ou quarta série, e tinha sempre pelo menos alguma vez no ano, o dia que íamos ao cinema juntamente com os professores e os colegas de classe. Neste dia eu aprendi algo que seria fundamental para qualquer outra situação que pudesse vir acontecer na minha vida; mas calma que não foi literalmente neste dia que aprendi, levou um tempo, mas a partir disto, muitas outras coisas fizeram sentido...

Lá estava nós indo para o cinema, assistimos um filme que agora nem que eu queira, vou conseguir recordar qual era, mas o que realmente importa não estava nessa situação. Foi uma manhã muito boa, me diverti demais com todos os meus amigos(a), lembro bem que na volta a escola era ainda mais divertido, pois tinha um professor que montou um trenzinho com sua caminhonete, (sua buzina era de trem) e lá ia todos os alunos, e ficamos dando voltas pela cidade até voltar para escola.

Chegando na escola, não tínhamos muito o que fazer naquele dia e fomos brincar, mais especificamente de “pega, pega”. Tinha duas menininhas que estavam sempre conosco e brincavam também, mas acho que naquele dia elas não estavam muito dispostas; estávamos lá todos brincando, até eu ter a grande ideia de não as chamar para brincar, mas dizer;

- Léro, léro, léro, você não pega...

E posteriormente a isto, surgiu a grande lição!

Até hoje me pergunto o que elas entenderam, e se realmente entenderam, como interpretaram, e o que disseram as outras pessoas.

Cinco minutos depois, elas e todas as pessoas que era meus “amigos” estavam realmente querendo me pegar, mas não era na brincadeira não. Lá estava eu, correndo de “meio mundo”, dando trabalho para todos, mas a brincadeira na minha cabeça estava meio estranha, mas ao mesmo tempo empolgante, pois geralmente não é todos contra um, até que percebi que tinha algo errado, e corria até não aguentar mais, aprendi até “parkour” naquele dia sem nem saber o que era; até que chegou um momento que não tinha mais para onde ir, naquela grande/pequena escola.

Fizeram uma roda, para todos os lados que eu olhava tinha gente, menos os inspetores, não tinha para onde ir, mesmo assim, com a grande habilidade em correr que eu acreditava que tinha, tentei escapar, porém, obviamente não obtive êxito. Todos se juntaram, ficaram “horas” correndo atrás de mim, eu me divertindo até descobrir que não era mais uma brincadeira, e enfim me pegaram. Todos me seguraram, me pegaram pelas pernas e braços me carregando por onde estávamos e todos que ali estavam, gritavam:

- Ei, Victor, vai tom....

E só me passava uma única coisa pela cabeça, “o que eu fiz?”

Anos mais tarde, até mesmo hoje, parando para refletir, pude compreender que nem tudo que dizemos, para o outro será realmente o que dissermos. Existe uma grande distância entre o que nós pensamos, o que nós dissemos e o que o outro compreende; há uma grande diferença entre o dito e o não dito. Muitas vezes o que compreendemos diz mais sobre nós do que sobre o outro, nós não enxergamos as coisas com elas são, mas sim, como nós somos! Entre o dito e o não dito, existe um mundo inteiro.

Na maioria das vezes, nesse “léro, léro, você não me pega”, pode até não parecer uma lição, quando se trata de crianças, mas quantas interpretações pode caber nessa pequena frase, principalmente na cabeça de uma criança? Em um momento que ela não esteja disposta para querer fazer algo?

E se com algo que pareça simples surgiu uma situação que nem podia imaginar, através de uma interpretação talvez errônea e com todas as pessoas que nelas confiavam e ficaram ao seu lado, o que pode acontecer se for com algum adulto que nos dias de hoje parecem estarem ainda mais estressados do que nunca, onde seu tempo vale mais do que tudo? Onde não há tempo para realmente escutar, mas tempo de sobra para realizar “telepatia”, como bem diz Christian Dunker; “sei que está falando, então coloco palavras em sua boca”, e assim escuta-se aquilo que quer escutar e não o que foi realmente dito. Imagine esses adultos, com grandes pessoas ao seu lado, que neles confiam? Em um ambiente de trabalho, uma faculdade talvez?!

É sempre bom, saber o que diz, refletir a própria reflexão e pensar o próprio pensamento, nem sempre o que pensa e o que quer dizer, é realmente o que quer dizer; e melhor ainda, com toda certeza, é saber escutar. Como bem dizia São Beda; que um dos caminhos para o fracasso, é justamente não perguntar o que se ignora.

Jamais saberemos exatamente o que virá do outro, então pelo menos, faça você a sua parte. Portanto, na dúvida pergunte, converse, não discuta, seja paciente, resiliente. Entre você e outro existe um campo enorme; e um ruído pode acabar estragando tudo.

Acredito eu afinal, que na “melhor” das hipóteses, e mesmo sendo a “melhor” delas, você não vai querer terminar com um monte de pessoas te pegando no colo e te mandando tomar naquele lugar, não é mesmo?

Risos.

Paineira Tupã

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Victor Breno Neves

Victor B. Neves - Psicólogo: CRP: 06/202727. Pós-graduando em Clínica Psicanalítica. Escritor, compositor e articulista do TupaCity.com

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